O Dia Nacional da Homeopatia, celebrado em 21 de novembro, faz referência à data da chegada ao Brasil do médico homeopata francês Benoit Jules Mure (1809-1858), responsável por introduzir o método terapêutico no país, em 1840. Instalou-se no Rio de Janeiro, no bairro da Lapa, onde começou a clinicar e a difundir esse sistema terapêutico.
Dr. Bento Mure, como ficou conhecido, curou-se de uma tuberculose por meio da homeopatia, uma ciência terapêutica que trata o paciente individualmente e como um todo, utilizando substâncias diluídas para reequilibrar sua energia vital.
Os fundamentos da homeopatia baseiam-se na Lei dos Semelhantes, citada por Hipócrates no ano 450 a.C., e segundo a qual os semelhantes se curam pelos semelhantes, isto é, para tratar um indivíduo que está doente é necessário aplicar um medicamento que, quando experimentado em um indivíduo sadio, provoque os mesmos sintomas que o doente apresente. Esse princípio é parecido com o das vacinas.
Nascido na Alemanha em 10 de abril de 1755, Christian Friedrich Samuel Hahnemann é o médico que iria revolucionar os métodos terapêuticos. Desiludido com a pouca eficácia das terapias usadas na época e, após estudos e reflexões baseados na observação clínica e em experimentos, sistematizou os princípios filosóficos e doutrinários da homeopatia.
A partir daí, essa racionalidade médica experimentou grande expansão por várias regiões do mundo, estando hoje firmemente implantada em diversos países da Europa, das Américas e da Ásia.
Hahnemann e seus discípulos desenvolveram 100 substâncias curativas. Hoje, há cerca de 3 mil delas. Ao longo dos anos, os métodos homeopáticos evoluíram muito, mas seus princípios básicos, desvendados por ele, perduram após mais de dois séculos.
Energia Vital:
Todos os seres vivos apresentam uma espécie de força organizadora que ajuda a manter os vários tipos de organismo em estado mais ou menos saudável. A perturbação desta unidade organizada pode ser a primeira etapa de uma enfermidade. Pode ser chamada de energia vital, ou de força que mantém a saúde em dia.
De acordo com a homeopatia, a doença é um conjunto de alterações anatômicas e funcionais do organismo reagindo contra algum incômodo.
Cada indivíduo tem sua própria maneira de adoecer, bem como seu órgão de choque principal. Isto quer dizer que cada um adoece de modo distinto e, mesmo que o nome da doença seja o mesmo, nos detalhes, cada sintoma é diferente de pessoa para pessoa.
“Para o médico homeopata, a forma como a pessoa responde ao estresse, ao clima e até aos alimentos é levada em consideração na hora de escolher um medicamento”, explica a pediatra Maria de Fátima Della Côrte Marquez, referência técnica distrital em homeopatia no Distrito Federal. “É uma prática que ajuda o paciente em aspectos que vão muito além da cura de uma doença, oferecendo uma melhora comportamental e até cognitiva. ”
Sua principal característica é a escuta atenta, feita em longas consultas com anamneses bem detalhadas, e um olhar mais abrangente sobre o paciente, em sua integralidade. Outro pilar fundamental é o tipo de remédio usado nos tratamentos, feito com extratos provenientes dos reinos animal, mineral e vegetal, sempre muito diluídos. Essa super diluição faz com que o remédio seja tomado em pequenas doses, com uma frequência maior e por mais tempo que os medicamentos alopáticos – daí a expressão popular “em doses homeopáticas”.
Ao contrário da alopatia, o tratamento homeopático tem como foco o paciente e a história da doença, estimulando o organismo a processar a auto cura, utilizando medicamentos preparados a partir de uma solução de álcool e água (tinturas), diluídos muitas vezes para diminuir os efeitos colaterais.
Não existe contraindicação para o uso da homeopatia – todas as idades podem se beneficiar do método, assim como todas as patologias podem ser tratadas com ele. “Ela é muito eficaz no combate às alergias, por exemplo”, comenta Maria de Fátima. Em alguns casos, entretanto, a especialidade precisa atuar em parceria com medicamentos convencionais.
“A homeopatia não é um tratamento exclusivista. Quando necessário, ela pode ser usada de forma coadjuvante ao tratamento alopático”, observa a médica. “Um paciente diabético e hipertenso, que usa um determinado medicamento há anos, pode conseguir reduzir a dosagem com a ajuda da homeopatia. Isso ajuda a minimizar os efeitos colaterais causados por algumas drogas alopáticas”.
Medicamentos homeopáticos:
Considerando-se que cada indivíduo tem a sua “energia vital” ou a sua “força de saúde” e cada um tem seu órgão de choque específico, além de uma maneira própria de adoecer, pode-se afirmar que ele tenha, também, seu medicamento homeopático específico. Não para a doença, mas para todo seu corpo e todos os seus sintomas.
Este medicamento pode devolver sua saúde, melhorando muito seu mal-estar e sintomas fisiológicos, isto é, aqueles que mudaram para pior o funcionamento do seu corpo. Muitas vezes, o tratamento pode também reverter lesões físicas que estão avançadas, mas ainda são curáveis.
Os medicamentos homeopáticos são produzidos em farmácias de manipulação e têm como matérias-primas ervas naturais, ou mesmo raízes, minerais, animais, entre outras fontes provenientes da natureza.
Tratamento homeopático:
O tratamento com a homeopatia tem como objetivo mobilizar as defesas do próprio organismo para que este se reequilibre e combata a causa da doença. Diferentemente da medicina tradicional que avalia os sintomas, diagnostica a doença e prescreve o tratamento, a homeopatia é uma prática que estimula a cura do indivíduo “de dentro para fora”.
A ingestão de medicamentos homeopáticos depende sempre do estado clínico do paciente e, por isso, não devem ser tomados ou ter suas doses repetidas sem o conhecimento e a prescrição do profissional homeopata. Condena-se a automedicação e a indicação de medicamentos homeopáticos por pessoas não habilitadas, pois, para prescrevê-los ou fazer diagnósticos é preciso ter formação técnica e profissional adequadas.
Se antes a homeopatia era tida como uma alternativa à alopatia, hoje ela é vista como uma prática complementar à medicina convencional. Desde 2006, ela faz parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde, sendo oferecida gratuitamente em unidades da rede pública.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de médicos homeopatas e a especialidade é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1980.
Sua implementação no Sistema Único de Saúde (SUS) representa uma importante estratégia para a construção de um modelo de atenção centrado na saúde, uma vez que:
– Recoloca o sujeito no centro do paradigma da atenção, compreendendo-o nas dimensões física, psicológica, social e cultural. Na homeopatia o adoecimento é a expressão da ruptura da harmonia dessas diferentes dimensões. Desta forma, essa concepção contribui para o fortalecimento da integralidade da atenção à saúde.
– Fortalece a relação médico-paciente como um dos elementos fundamentais da terapêutica, promovendo a humanização na atenção, estimulando o autocuidado e a autonomia do indivíduo.
– Atua em diversas situações clínicas do adoecimento como, por exemplo, nas doenças crônicas não-transmissíveis, nas doenças respiratórias e alérgicas, nos transtornos psicossomáticos, reduzindo a demanda por intervenções hospitalares e emergenciais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos usuários.
– Contribui para o uso racional de medicamentos, podendo reduzir a fármaco-dependência.
Fontes:
Biblioteca Virtual em Saúde – Homeopatia
Câmara dos Deputados
Centro de Estudos Avançados em Homeopatia
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Federação Médica Brasileira
Max Altman. 1755 – Nasce Hahnemann, médico criador da homeopatia. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, abr. 2015
Secretaria de Saúde do Distrito Federal