12 a 18/10 – Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância


 

Crianças e adolescentes são indivíduos que estão em fase de crescimento e desenvolvimento corporal, mental, emocional e social, necessitando de apoio e proteção social – uma simples questão de Direitos à Saúde e à Vida, mas que se tornou bastante complexa no Brasil de hoje, em que a violência diária, estrutural e cultural, vem sendo banalizada e se tornando um ciclo vicioso entre gerações.

Desde a gestação até os primeiros seis anos de vida – período que compreende a Primeira Infância – ocorre um rápido e intenso processo de formação das conexões neurais, durante o qual fatores genéticos e ambientais interagem de forma contínua para o desenvolvimento do cérebro e de todo o sistema nervoso central.

Propiciar experiências pessoais positivas e significativas, bem como garantir o acesso a um ambiente de qualidade é fundamental nessa fase, fazendo com que as experiências vivenciadas determinem a estrutura neural para o desenvolvimento das habilidades físicas, cognitivas e socioemocionais necessárias para garantir a saúde física e mental das pessoas durante toda a vida.

Além do crescimento físico, é nessa época que a arquitetura cerebral começa a ser formada. No primeiro ano de vida, por exemplo, os neurônios fazem cerca de 700 novas conexões por segundo. Até os três anos de idade, o cérebro atinge 87% do tamanho que terá no futuro.

“Essa etapa é uma grande janela para o desenvolvimento que precisa ser bem aproveitada. As experiências vivenciadas nesse período são relevantes para o resto da vida, pois refletem em quem a criança será no futuro, o seu comportamento e relações pessoais”, explica a coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, Ângela Bley.

Trocas de carinho, conversas e convivência saudável são atitudes que também fazem a diferença no desenvolvimento de meninos e meninas. “As crianças criam modelos de acordo com o vínculo que estabelecem com os familiares, por exemplo. Por isso, relações pessoais agradáveis e um ambiente favorável são tão importantes”, destaca a doutora em Psicologia.

Apesar disso, os estímulos devem ser equilibrados. “É preciso deixar a criança tentar e errar, só assim elas conseguem testar novas possibilidades e, por fim, aprender. Estabelecer limites e rotinas também é essencial”, aponta Ângela.

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve duas formas de violência:

Violência direta: Caracterizada por um conflito interpessoal que prejudica os indivíduos e/ou uso de ameaças e/ou ataques físicos, psicológicos ou materiais para impor as necessidades, objetivos ou desejos individuais sobre outras pessoas.

Violência indireta: Expressa por meio de processos políticos, econômicos e/ou opressão na sociedade. Exemplos de violência indireta incluem desigualdade social e falta de acesso à educação e saúde de qualidade.

Contra crianças, os comportamentos de violência podem ser caracterizados como abuso, definido como qualquer tipo de maus tratos, ou negligência, caracterizada pela falha dos responsáveis em cumprir com suas obrigações de ofertar um ambiente saudável e rico em estímulos e afetos positivos.

Vários estudos relataram que as consequências da negligência são tão graves quanto as do abuso infantil, pois ambos interferem negativamente e de forma intensa no desenvolvimento e esse impacto perdura até a idade adulta.

A violência pode ser classificada como: física; emocional (psicológica, verbal); sexual; econômica.

Para prevenir episódios de violência, bem como tratar as crianças e famílias que sejam vítimas, além de programas parentais são necessárias ações interdisciplinares e inter-setoriais, envolvendo as áreas de saúde, educação, assistência social, setor judiciário e a comunidade.

Esse trabalho interdisciplinar integrado deve favorecer o “empoderamento”, o protagonismo e a autonomia de crianças, famílias e comunidades, além de criar políticas públicas que garantam maior proteção a esses indivíduos.

A “punição corporal”, justificada como “disciplina familiar” é, na realidade, um abuso “silencioso” que humilha e traumatiza a criança. Isso trará consequências ao seu aprendizado e rendimento escolar, à sua (des) integração social e no uso de drogas/álcool, aumentando os dados estatísticos de mortes por causa externa ou “fatalidades” (homicídios, suicídios e acidentes), perigos que poderiam ter sido prevenidos, se a atitude de construção para a vida fosse outra, de educação para a paz e a saúde!

A Declaração Universal dos Direitos da Criança, a Convenção dos Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente, são contra a violência e a favor da dignidade, do respeito e da proteção social da criança, na família, na sociedade e no Estado.

Isso significa que “bater” na criança não é permitido em nenhuma circunstância e é sempre injustificável: “maltratar” significa prejudicar alguém e “maus tratos” são todos os tipos de abuso, negligência, abandono ou exploração.

 

O objetivo da Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância, instituída pela Lei nº 11.523/2007, é conscientizar a população sobre a importância desse período da vida na formação de um cidadão voltado para a convivência social e para a cultura de paz.

A Lei prevê, ainda, que no período da campanha devem ser desenvolvidas atividades pelo setor público, juntamente com entidades da sociedade civil, visando ao esclarecimento e à conscientização da comunidade sobre as verdadeiras causas da violência e suas possíveis soluções.

 

Fontes:

EISENSTEIN, Evelyn. Crescer com palmadas faz mal à saúde! Rede Nacional Primeira Infância
Escola Paulista de Enfermagem
Hospital Pequeno Príncipe – Paraná