Transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue. Consiste na substituição das células de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais, com o objetivo de reconstituir uma medula saudável.
O transplante pode ser autogênico, quando a medula vem do próprio paciente; alogênico, quando a medula vem de um doador; ou pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue circulante de um doador ou do sangue de cordão umbilical.
O transplante tem indicação para tratar um conjunto de cerca de 80 doenças, incluindo casos de mieloma múltiplo, linfomas e doenças autoimunes; em doenças do sangue como a anemia aplástica grave, outras anemias adquiridas ou congênitas, e na maioria dos tipos de leucemias, como a mieloide aguda, mieloide crônica e a linfoide aguda.
A medula óssea é um tecido líquido que ocupa a cavidade dos ossos (conhecida popularmente como o tutano do osso), ou seja, é diferente da medula espinhal que tem como função transmitir os impulsos nervosos, a partir do cérebro, para todo o corpo e é formada de tecido nervoso.
É na medula óssea que são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Pelas hemácias, o oxigênio é transportado dos pulmões para as células de todo o organismo e o gás carbônico é levado destas para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos são os agentes mais importantes do sistema de defesa do corpo e protegem das infecções. As plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.
Para a realização de um transplante de medula é necessário haver compatibilidade entre doador e receptor, caso contrário, a medula será rejeitada. Esta compatibilidade tecidual é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6.
Com base nas leis da genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre irmãos (mesmo pai e mesma mãe) é de 25%, enquanto que, entre indivíduos não aparentados, é, em média, de 1 em 100 mil.
A combinação de genes do doador e do paciente deve ser idêntica (100%) ou muito próxima do ideal (90%). A análise é realizada em testes laboratoriais específicos, a partir das amostras de sangue do doador e receptor, chamados de exames de histocompatibilidade (HLA).
Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução é procurar um doador compatível entre os indivíduos da população em geral, representada por diferentes grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc.) e suas combinações.
Desta forma, surgiram os primeiros registros de doadores de medula óssea, em que voluntários são cadastrados e selecionados para ajudar pacientes de todo o mundo. Hoje, já existem mais de 38 milhões de doadores em todo o mundo.
No Brasil, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) promove a busca de doadores no Brasil e nos registros estrangeiros.
O número de doadores voluntários tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Em 2000, existiam apenas 12 mil inscritos. Naquele ano, dos transplantes de medula realizados, apenas 10% dos doadores eram brasileiros localizados no REDOME. Agora há mais 5 milhões de doadores inscritos.
A chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado.
O Brasil tornou-se o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, ficando atrás apenas dos registros dos Estados Unidos e da Alemanha. A evolução no número de doadores deveu-se aos investimentos e campanhas de sensibilização da população, promovidas pelo Ministério da Saúde e órgãos vinculados, como o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Essas campanhas mobilizaram hemocentros, laboratórios, ONGs, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral.
Para se tornar um doador de medula óssea é necessário cumprir alguns critérios definidos pelo Ministério da Saúde, como por exemplo:
– Ter entre 18 e 35 anos de idade;
– Estar em bom estado geral de saúde;
– Não ter doença infecciosa ou incapacitante;
– Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.
Além dos pré-requisitos acima, é necessário procurar o hemocentro do seu estado e agendar uma consulta de esclarecimento ou palestra sobre doação de medula óssea. O voluntário à doação irá assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), preencher uma ficha com informações pessoais e colher uma pequena amostra de sangue para análise das características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade.
Quando houver um paciente com possível compatibilidade, o voluntário será consultado para decidir quanto à doação. Por este motivo, é necessário manter os dados sempre atualizados.
Para seguir com o processo de doação serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade e uma avaliação clínica de saúde. Somente após todas estas etapas concluídas o doador poderá ser considerado apto e realizar a doação.
Há dois tipos de procedimento para a doação e a escolha do mais adequado é feita pelo médico:
– Procedimento I: O doador passará por internação hospitalar e será anestesiado em centro cirúrgico. A medula é retirada do interior dos ossos da bacia por meio de punções (pequenas perfurações feitas com agulha). Serão retirados aproximadamente de 500 a 700 ml da medula.
O doador retorna às suas atividades habituais cerca de uma a duas semanas após a doação e o tempo mínimo de internação hospitalar é de 24 horas.
– Procedimento II: A coleta das células-tronco hematopoiéticas será feita diretamente do sangue periférico e para isso o doador recebe algumas doses de medicação injetável que estimula a migração destas células da medula para o sangue, permitindo sua retirada por meio do procedimento de aférese (doação automatizada), através de uma punção venosa, parecido com o processo de doação de sangue. Neste caso, não há necessidade de internação nem de anestesia, sendo todos os procedimentos feitos por via sanguínea.
A medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias. Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, que pode ser amenizado com o uso de analgésicos e medidas simples.
Já o receptor deve se submeter a um tratamento que destrói as células sanguíneas doentes de sua medula óssea, e recebe as células sadias, como em uma transfusão de sangue. Durante o período em que estas células ainda não são capazes de produzir glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas em quantidade suficiente para manter as taxas dentro da normalidade, o paciente fica mais exposto a episódios infecciosos, devendo ser mantido internado no hospital, onde recebe cuidados com a dieta, limpeza e esforços físicos.
A Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea é uma campanha instituída pela Lei nº 11.930/2009 e visa a conscientização de toda a sociedade sobre a importância de se tornar um doador.
No período de 14 a 21 de dezembro devem ser desenvolvidas atividades de esclarecimento e incentivo à doação de medula óssea e à captação de potenciais doadores cujos dados, como, nome, endereço, resultados de exames e características genéticas ficarão cadastrados no REDOME.
Esse cadastro que reúne as informações de pessoas que se dispõem a doar medula para o transplante foi criado em 1993 e desde 1998 é coordenado pelo INCA.
Como existe um cruzamento de dados mundial, caso haja um doador compatível, em qualquer lugar do País ou no exterior, essa pessoa é acionada e tem todas as despesas de deslocamento e hospedagem custeadas pelo Ministério da Saúde.
As ações, atividades e campanhas publicitárias devem envolver órgãos públicos e entidades privadas a fim de informar e orientar sobre os procedimentos para o cadastro de doadores e a importância da doação para salvar vidas. Quanto mais pessoas se cadastrarem, maiores serão as chances dos pacientes que aguardam pelo transplante.
Para quem já se cadastrou como doador em um hemocentro, é importante estar atento para mantê-lo atualizado. É possível atualizar os dados pelo aplicativo REDOME, disponível nas lojas de aplicativos de celular. Além de manter os dados, o voluntário pode gerar sua carteira de doador e também uma declaração de que é doador de medula óssea!
Fontes:
Hospital Nossa Senhora da Conceição – Pará de Minas/MG
Instituto Nacional de Câncer (INCA)
Ministério da Saúde
Secretaria de Estado de Saúde de Goiás
Secretaria da Saúde do Estado de Tocantins